quarta-feira, 7 de outubro de 2009

OS IRMÃOS E IRMÃS DE JESUS


No grego bíblico, o termo “adelphós” (irmão) corresponde ao vocábulo hebraico “ah”, que tanto pode significar irmão carnal quanto parente de consangüíneo. Assim, a palavra “adelphós” (irmão) é usada também para designar um primo, um sobrinho, um tio ou qualquer parente. Em Gêneses 13,8, Abrão (a mudança de nome para Abraão se dará posteriormente) diz a Ló: “[...] somos irmãos”; mas pouco antes, se lê (Gn 11,27-31) que Ló era filho de Arão, irmão de Abrão; portanto, Ló era sobrinho de Abrão, e não irmão (cf. também: Gn 29,15; compare com Gn 27,43 e 29,10-11). Por trás dessa identificação de “irmão” com “primo” ou “parente”, há um conceito de família deferente do nosso. Ao nos referirmos a uma família, pensamos no pai, na mãe e nos seus filhos. Os orientais tinham um conceito de família diferente do nosso: incluíam nela (e muitos o fazem ainda hoje) também os parentes, próximos ou distantes. Os evangelistas referem-se aos parentes de Jesus como “irmãos e irmãs”, sem nunca chamá-los de “filhos de Maria”, nem dizer que Maria fosse mãe deles. MT 13,55 e Mc 6,3 citam alguns “irmãos de Jesus”: Tiago, José, Judas e Simão. Descrevendo a cena do Calvário, porém, o evangelista João diz: “Junto a cruz de Jesus estavam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena” (Jo 19,25). Marcos destaca que essa outra Maria (Irmã da Mãe de Jesus) era mãe de Tiago, o Menor, e de José (cf. Mc 15,40). Estes últimos não eram, pois, irmãos carnais de Jesus, mas seus primos, pois filhos de uma irmã de sua Mãe. Por sinal, no inicio de SUS carta, o apóstolo Judas declara-se “servo de Jesus Cristo e irmão de Tiago” (1,1). Também a palavra “primogênito” não é determinante para se concluir que Jesus tenha tido irmãos e irmãs; seu uso é sobretudo jurídico. A lei mosaica exigia que o primogênito (primeiro gerado) fosse consagrado ao senhor (Ex 13,2), independentemente de mais tarde os pais terem ou não outros filhos. Se Maria tivesse tido filhos, seria inexplicável que Jesus, na hora de sua morte, a confiasse ao apóstolo João (Jo 19,26); os outros filhos é que teriam obrigação de cuidar dela.
DOM MURILO S. R. KRIEGER, SCJ

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